A tecnologia também é coisa de meninas
Sou sincera quando digo que no meu dia-a-dia nunca notei diferenças com os meus colegas de trabalho, o seu trato para comigo é de igual para igual e nunca tive sensação de inferioridade por ser mulher.
É verdade que existem casos diferentes do meu e também é verdade que muitas vezes me pergunto porque sou a única rapariga do grupo de trabalho e até mesmo do departamento. Suponho que é alguma coisa que, apesar de me inquietar e até certo ponto não o chegar a entender, todas nos fomos habituando com os anos.
Na universidade a situação era muito similar, estudei Engenharia de Telecomunicações em Valladolid, que foi sempre foi um curso predominantemente masculino e, apesar disso, nunca significou uma desigualdade entre colegas em resultados obtidos nem em oportunidades laborais às quais optar.
Esta desigualdade vê-se atualmente refletida na diferença entre o número de homens e mulheres nas empresas dedicadas a soluções tecnológicas. Na minha opinião todas as que participamos temos, em parte, o dever de provocar uma mudança na mentalidade da sociedade para reduzir ao máximo esta diferença.
Por isso, quando a GMV me propôs participar no programa STEM Talent Girl da junta de Castela e Leão pareceu-me uma ideia ótima e aceitei sem hesitar.
Neste programa dão-nos a oportunidade de ser um modelo a seguir e um apoio para as meninas que se interessem por estas áreas. Participam desde raparigas da escola secundária até raparigas que já estão na universidade e, dependendo dos seus interesses, mantêm o contacto com diferentes mentoras. Além disso, algumas mulheres que são referências no mundo STEM de Castela e Leão organizam uma palestra mensal onde contam tanto a sua trajetória profissional como o que as levou ao lugar onde estão.
Parece-me um grande avanço que existam cada vez mais associações, tanto nas Universidades como nos organismos públicos, que tentam despertar o interesse das mais pequenas, principalmente convidando-as a participar através de workshops ou simplesmente contando-lhes, por exemplo, a que tipo de trabalhos se pode dedicar um Engenheiro de Telecomunicações, algo que para elas e até mesmo para mim quando comecei a estudar, era um mundo desconhecido.
Ser um apoio ou uma referência para algumas meninas é uma meta que já consegui cumprir anteriormente. Durante alguns anos fui treinadora de basquetebol de uma equipa de meninos e meninas e, como já é bem conhecido, o mundo do desporto é mesmo mais masculinizado do que o da ciência e tecnologia, pelo que o número de meninas que se inscreviam não era demasiado alto.
Uma das minhas maiores conquistas durante essa etapa foi conseguir que, após um ano duro com uma equipa mista em que os comentários mais usuais eram “as raparigas não têm jeito para o basquetebol” ou “eu, com raparigas, não quero jogar”, estas mesmas raparigas se sentissem suficientemente valorizadas, capazes e iguais aos seus colegas.
Conforme escrevo, parece óbvio que essas meninas de dez anos tinham tanta capacidade como os meninos da sua mesma idade, mas garanto que era uma questão de confiança em si mesmas e que, depois deste ano, o número de meninas do mesmo curso que se inscreveu na equipa foi mais do que o dobro.
Outro fator que faz com que seja impossível duvidar das capacidades que as mulheres têm para se dedicar às áreas STEM é a quantidade de grandes profissionais que fui encontrando pelo caminho, desde a professora de química que marcou os meus anos de escola secundária até as minhas atuais colegas de trabalho que, do meu ponto de vista, são capazes de render ao máximo sem que uma tarefa tão importante como a de ser mãe represente um fator diferencial na sua carreira profissional.
Como reflexão, acredito que dentro de alguns anos este esforço nos fará olhar para trás e ver que conseguimos afastar-nos dos estereótipos aumentando a visibilidade da tecnologia e das telecomunicações e demonstrando que são áreas que têm um grande impacto social.
Continuemos a lutar por isso!
Autora: Mónica Ruiz