Ninguém gosta de falar da morte, mas a nível pessoal tenho as minhas palavras-passe num gestor de palavras-passe a que só eu tenho acesso, com uma palavra-passe muito difícil e com duplo fator de autenticação. Embora a minha mulher ou o meu irmão ou quem quer que seja da minha confiança soubesse a palavra-passe, não ia poder aceder ao serviço para recuperar outras como podem ser as dos bancos, o meu Apple ID para gerir o HomeKit e as automatizações ou a palavra-passe da Endesa para alterar o nome do recibo da luz.

Certamente que morrer já seria suficiente trabalho para a família para depois não poderem realizar todos esses trâmites de forma cómoda, ou não poderem alterar a temperatura a que se ativa a caldeira, ou não poderem vender os 0,000001 Bitcoins que tenho na minha wallet pessoal. Já não digo fechar a minha conta de Strava, que seria desejável para que não pareça que estou inativo, mas que me retirei no auge... mas isso já são coisas menores que se iriam solucionando pouco a pouco.

Graças a Deus (nunca melhor dito) tudo isto já está solucionado, mas poucas vezes reparamos nisso até que não nos vemos na necessidade.

Utilizo LastPass como gestor de palavras-passe pessoal, apesar de, para as palavras-passe da empresa (apesar de também ter alguma pessoal) utilizar Sesamo.

LastPass dispõe de um ‘Acesso de Emergência’, o qual se pode designar para estas coisas. Com o seu consentimento, é claro. O referido Contacto de Emergência não pode aceder às suas palavras-passe a menos que lhe aconteça alguma coisa. Não significa que esteja a dar acesso à sua conta sem mais nem menos. Nesse momento, se for solicitado acesso às suas palavras-passe, o LastPass irá entrar em contacto consigo por todas as vias que conhece, por e-mail e por telemóvel, mediante mensagens de texto e de chamadas. Se não o conseguir encontrar num tempo configurável, que eu tenho em 21 dias, entende que é porque não pode responder (D.E.P) e dão acesso à sua conta ao Contacto de Emergência.

Não é preciso dizer que o Acesso de Emergência não se pode configurar à toa, caso contrário corremos o risco de que seja solicitado acesso aproveitando que estamos de férias nas Bahamas sem acesso ao telemóvel e nos seja roubada a conta de PayPal cuja palavra-passe tenho guardada em LastPass.

Também não serve pôr a cara-metade do casal, uma vez que (Deus não o queira) lhe pode ocorrer alguma coisa estando juntos... e então lá se vai a pessoa, o seu Contacto de Emergência e as suas palavras-passe; ninguém pode aceder a todos esses dados. É claro que os bancos contemplam esta possibilidade e, se levar a certidão de óbito e a correspondente habilitação, os seus herdeiros podem conseguir acesso à conta do banco, mas não será um trâmite fácil... e, logicamente, esqueça os 19 € que ficaram investidos em Bitcoin depois da descida destes dias.

No meu caso tenho configurados dois amigos, um amigo de Valencia e o outro é um colega de trabalho (não, não é o Antonio, não o coajam para ficarem com os meus Bitcoins depois de me terem dado veneno). Os dois têm conhecimentos suficientes de informática para realizar os trâmites necessários e confio plenamente que acedam às minhas palavras-passe e facilitem este trabalho à minha mulher, que já teria dose suficiente para ainda se preocupar com estas porcarias.

Com o acesso ao Sesamo a coisa complica-se muito, uma vez que teriam de convencer o Mariano J. Benito de que precisam de acesso a essas palavras-passe... e, riam-se então das burocracias que comentávamos antes!

E vocês? Pensaram alguma vez nesta possibilidade. E a vossa cara-metade poderia aceder facilmente às palavras-passe? Ou são dos que pensam que não nunca vão morrer?

Autor: Carlos Sahuquillo