A maior parte da população mundial (54%) vive atualmente em vilas e cidades, e espera-se que este número aumente acima dos 70% antes de 2050. Densidades de população tão elevadas apresentam uma série de desafios à mobilidade sustentável, mas também oferecem novas oportunidades. Uma parte significativa desta população pode desempenhar as suas rotinas diárias dentro da mesma cidade onde reside, seja porque vive perto do local de trabalho ou porque tem a possibilidade de trabalhar à distância, dependendo apenas dos transportes públicos para as suas necessidades de mobilidade. Desta forma, o número de veículos propriedade da população diminui no interior das grandes cidades.

A propriedade de um veículo num ambiente urbano tem um elevado custo económico, devido a estacionamento, seguro, manutenção, impostos e outras despesas. Este investimento não é particularmente eficiente, uma vez que o veículo é apenas usado durante uma pequena parte do tempo (normalmente inferior a 20%, e muitas vezes inferior a 5% do tempo).

No entanto, os meios tradicionais de transporte público não podem substituir a mobilidade porta a porta garantida por um veículo privado, uma vez que têm o constrangimento das suas áreas de operação, paragens e horários. A partilha de veículo é, portanto, uma proposta muito atrativa, uma vez que permite a mobilidade porta a porta como os veículos privados, mas reduzindo os custos associados. Em vez de pagar pela propriedade do veículo, paga-se pelo serviço de mobilidade pelo período em que é necessário, e o operador da frota trata da aquisição, do combustível, da manutenção, estacionamento, gestão e atualizações periódicas de uma frota de veículos partilhados. Isto também torna os sistemas de partilha de veículos socialmente inclusivos, uma vez que permite que as famílias com menos recursos acedam a uma solução porta a porta sem necessidade de um grande investimento inicial, tal com seria necessário para adquirir um carro.

Graças às comunicações móveis, ao acesso a veículos sem chave e à navegação por satélite, é possível rastrear e gerir uma grande frota em tempo real e até interagir com o veículo de forma remota. Isto permite aos utilizadores do sistema de partilha de veículo saber onde é que os veículos estão localizados, as características e estado de cada veículo individual, todas com antecedência, escolher o tipo de veículo que melhor se adequa às suas necessidades para uma viagem em particular (pequeno trajeto urbano, transporte de grande capacidade, condução todo-terreno ou viagens mais longas com passageiros) e acesso ao veículo sem a necessidade de trocar fisicamente chaves, comandos ou tokens.

Ao mesmo tempo, uma vez que a utilização de veículos partilhados é mais eficiente e intensiva no tempo, é possível aplicar um orçamento relativamente maior por veículo de forma a escolher o mais seguro, mais fiável e mais eficiente no consumo de combustível. Isto é claramente verdade para os casos em que possa ser usado um veículo elétrico, uma vez que pode ser recarregado com energia renovável e não tem emissões durante o funcionamento, duplicando as vantagens para toda a população na zona de operação.

A implementação de sistemas de partilha de veículos apresenta alguns desafios, ambos do ponto de vista técnico e organizativo, uma vez que é necessária uma solução técnica para monitorizar, localizar e interagir de forma remota com os veículos, tendo também os utilizadores de adaptar os seus hábitos de viagem às capacidades do sistema.

De qualquer forma, apesar destes desafios, as tecnologias disponíveis permitem solucionar estes problemas, proporcionando uma experiência positiva e intuitiva e proporcionando vantagens mensuráveis, a nível económico e social, e mesmo ambiental, sobre as tradicionais frotas de veículos de utilizador único, e apresentando uma alternativa viável à propriedade de veículo para a maior parte de um grande segmento da população.

Autor: Pablo Rivas Salmón