Pseudo-satélites, um mundo de soluções e aplicações
Os pseudo-satélites ou HAPS (High Altitude Pseudo Satellites), são plataformas aéreas que operam na estratosfera, a uma altitude média de 20 Km, por cima das linhas aéreas comerciais, das fortes correntes da circulação geral atmosférica e da humidade da troposfera. Em linhas gerais, os HAPS ajustam-se a duas concepções estruturais: os planadores, mais pesados que o ar (Heavier Than Air - HTA) e os navegadores e globos mais leves que o ar circundante (Lighter Than Air - LTA). A sua utilização, complementar às missões de satélite, é promissora para as telecomunicações e para as aplicações de observação da Terra.
A relativa proximidade dos HAPS à Terra apresenta claras vantagens técnicas, pois estas plataformas permanecem em voo durante semanas ou meses, regressando à base para tarefas de manutenção. A localização quase permanente dos LTA regista dados em modo vídeo enquanto a mobilidade dos HTA permite captar dados do mesmo objecto a partir de diversos ângulos de observação. A resolução espacial melhora consideravelmente pela menor distância relativamente aos objectos; a transmissão de dados beneficia de menor latência em comparação, por exemplo, com os satélites, incrementando a eficiência das unidades do segmento terrestre. Além disso, perante as estações de medição terrestre, pontuais e discretas, os HAPS registam os dados continuamente, por exemplo, da coluna atmosférica ou da superfície marítima, sem interferências da topografia.
A Agência Espacial Europeia (ESA) mostrou interesse no futuro dos HAPS através de um estudo que estima a complementaridade destas plataformas relativamente aos satélites, na avaliação da qualidade do ar. Por isso nasceu a HAPSVIEW, com o objectivo de mostrar o valor acrescentado dos HAPS para os modelos de qualidade do ar, derivados de redes locais e observações de satélite.
A GMV lidera o projecto HAPSVIEW em colaboração com o Instituto Meteorológico dos Países Baixos (KNMI), com a empresa suíça SCEYE, desenvolvedora do navegador LTA e com a empresa canadiana ABB, especializada em instrumentos de observação aerotransportados. O estudo conta com a participação de quatro instituições responsáveis pelo controlo, seguimento, gestão e relatório da qualidade do ar: a Autoridade da Grande Roterdão e a Assembleia do município, assim como as Assembleias de Andaluzia e Sevilha.
A qualidade do ar em Roterdão e Sevilha, como no resto das cidades europeias, apresenta desafios importantes para a saúde pública e para o cumprimento do Acordo de Paris, no contexto da Convenção-Marco das Nacões Unidas sobre a Mudança Climática, a qual estabelece medidas para a redução de emissões de gases com efeito de estufa.
No transcurso do estudo, o consórcio identificará os requisitos dos utilizadores relativamente aos dados da qualidade do ar em Roterdão e Sevilha, às plataformas de voo, à carga útil, ao segmento terrestre e aos requisitos de missão do HAPS. Além disso, também se analisará a regulamentação do espaço aéreo, os produtos associados aos dados observados e as sinergias com as missões de satélite. Qualquer limitação ou défice dos HAPS será estudada para apresentar a evolução destas plataformas.
A consciencialização ambiental está cada vez mais generalizada, não apenas para garantir o legado natural às futuras operações, mas também pela salubridade dos nossos contextos urbanos actuais, tendo em conta que 54% da população mundial vive em áreas urbanas conforme a reanálise de população urbana das Nações Unidas em 2018.
A HAPSVIEW apresentou-se em Setembro perante a comunidade científica reunida no certame ESA Phi-Week, um evento que explora as tecnologias de vanguarda em benefício das futuras missões de satélite e de serviços de observação da Terra.