A integração das aeronaves não tripuladas (UAS), um desafio pendente
![RPAS](/sites/default/files/styles/image_1000/public/content/image/2022/03/10/111/img_3207.jpg?itok=8iVuqiPW)
Cada século tem uma ou várias décadas definitórias, com mudanças importantes impulsionadas por diversos acontecimentos culturais, políticos, económicos ou tecnológicos que marcam o seu tempo. Nos últimos anos, a sociedade mundial do século XXI, e a europeia em particular, alcançou um nível de conectividade, digitalização e mobilidade até há pouco tempo impensável. É precisamente nestes conceitos de digitalização, conectividade e mobilidade que se observam os avanços mais significativos, especialmente com o aparecimento de sistemas e veículos aéreos não tripulados (UAS/UAV) ou pilotados de forma remota (RPAS).
O aparecimento destas aeronaves, juntamente com a melhora dos conceitos de navegação, estabeleceu as bases de um setor emergente que, pouco a pouco, se está a integrar na vida quotidiana da sociedade. No entanto, é no mundo militar que estes sistemas tiveram uma penetração mais precoce, e onde a GMV está a ter um protagonismo no desenvolvimento de sistemas a bordo, fornecimento e certificação de UAS, etc. Em particular, a GMV, juntamente com a AUREA Avionics, já forneceu vários sistemas Sekeer UAS ao Ministério da Defesa.
Apesar disso, é na vida civil que se espera que estas aplicações venham a ter maior impacto, tornando viáveis operações cada vez mais automatizadas, nas quais a presença humana se irá reduzindo. No imaginário coletivo identificamos atualmente operações a priori destinadas a ser realizadas por drones, como o transporte urgente de produtos sanitários, o envio de auxílio a zonas de acidente ou a monitorização rápida em zonas de emergência, chegando mesmo às localizações próximas a algum delito.
No entanto, todas estas operações criam um problema comum: a interação destes sistemas em espaços com outras aeronaves tripuladas e com pessoas ou objetos não relacionados com a operação. Na atualidade, o regulamento tenta impor requisitos em função do risco concreto de cada voo, e é no contexto urbano que se estão a centrar os esforços para tentar desenvolver um conceito seguro que permita, para além disso, flexibilidade aos utilizadores para poderem levar a cabo as suas atividades.
Este regulamento tem de alcançar um delicado equilíbrio entre as duas visões contrapostas, a das autoridades de aviação (tradicionalmente muito garantistas e que tendem a regular todos os aspetos) e a dos utilizadores (usualmente sem conhecimentos aeronáuticos prévios e com procedimentos mais relaxados).
A modo de exemplo, empresas de distribuição mundialmente conhecidas estão a pensar em desenvolver um serviço de envio de encomendas diretamente com UAS desde o centro logístico até ao domicílio do cliente. Este caso concreto faria com que centenas de naves sobrevoassem núcleos urbanos, incrementando muito o risco de acidente, tanto que poderia inclusivamente prejudicar o setor pela falta de confiança da população. Por esse motivo procura-se estabelecer um procedimento claro e condições de segurança suficientes sem se converter numa barreira inultrapassável para quem se disponha a tal em termos de burocracia e certificações.
Torna-se óbvio que este processo não é nada simples e que a casuística é quase infinita, pelo que as instituições europeias estão a desenvolver o conceito U-Space, um conjunto de novos serviços e procedimentos de gestão do espaço aéreo desenhados para garantir o acesso ao mesmo das aeronaves não tripuladas e a sua interação com a aviação convencional, zelando ao mesmo tempo pelo direito à intimidade e à segurança das pessoas e das infraestruturas.
Para isso, os serviços de U-Space irão basear-se num alto nível de automatização e autonomia, e é na definição, estandardização e desenvolvimento destes serviços que a GMV está a desempenhar um papel chave nos últimos anos. A GMV desenvolveu vários serviços U-Space integrados na suite Dronelocus© (Serviço de Gestão de Emergências, Serviço de Seguimento, Serviço de Predição de Disponibilidade da Navegação e da Vigilância). Estes serviços foram avaliados em contextos operacionais reais, integrando-se com outras aplicações U-Space no âmbito do projeto DOMUS, demonstrador espanhol de U-Space coordenado por ENAIRE. Além disso, outros projetos com a participação da GMV, como EGNSS4RPAS e SONORA, estabeleceram as bases das necessidades de regulação nos sistemas de navegação, e irão continuar a dar suporte à Comissão Europeia em todas as atividades relacionadas. Por outro lado, projetos como SUGUS e EUGENE (em atual execução), ambos liderados também pela GMV, tentam proporcionar soluções tecnológicas que facilitem e automatizem os procedimentos de voo de UAS/RPAS em todo o tipo de ambientes.
Apesar da dificuldade da sua implementação, espera-se que U-Space seja capaz de garantir o bom funcionamento dos drones em todos os contextos operativos e em todos os tipos de espaços, para todos os tipos de missões e para todas as categorias de drones. Este setor será chave no desenvolvimento económico e tecnológico nos próximos anos. É por isso por que a liderança europeia para fazer do modelo U-Space uma referência mundial depende do acerto no trabalho realizado na sua definição conjuntamente pela indústria e as instituições europeias.
Autor: Ginés Moreno López