ATIN-Blueco: dados de Observação da Terra em apoio à proteção do ambiente marinho e ao desenvolvimento da economia azul

ATIN-Blueco

Os países da UE situados na costa do Atlântico estão a adotar regulamentos para a planificação e gestão marina (por exemplo, a diretiva sobre a ordenação do espaço marítimo, a diretiva-marco sobre estratégia marinha, as medidas relativas à economia azul e a política marítima integrada) para abordar os futuros desafios relacionados com o meio marinho.

O tamanho do Atlântico destaca a necessidade de novas soluções para gerir a vasta zona geográfica que abrange. Por isso, este é o momento ideal para que a Agência Espacial Europeia (ESA) coordene, estabeleça e avalie os projetos que demonstrem como a observação da Terra (EO) pode contribuir para o cumprimento das aspirações e requisitos da política marinha da UE.

Estes projetos materializaram-se na Iniciativa Regional Atlântica da ESA, que procura a correta participação dos atores interessados presentes na costa do Atlântico, assim como fomentar estratégias adequadas para abordar a evolução a médio e longo prazo de diversas atividades económicas marítimas. No âmbito desta iniciativa, financiaram-se vários projetos que abordam temas relevantes como a economia azul, a planificação espacial marítima, as cidades atlânticas e as energias renováveis.

Neste contexto, a GMV lidera o projeto ATIN-Blueco, centrado na economia azul: clusters de inovação, gestão dos recursos naturais do Atlântico e planificação espacial marítima, com o objetivo de complementar a iniciativa regional atlântica e proporcionando ideias e soluções para a economia azul.

Como parte deste projeto, a GMV e os seus sócios (o Centro Nacional de Oceanografia e a University College Cork) estão a consolidar a sua experiência de EO e TI para desenhar e criar serviços bem formulados que permitam a difusão de informação para atender as necessidades dos utilizadores e partes interessadas que trabalham em âmbitos relevantes, como a poluição marinha, as inundações e o risco de erosão costeira e a energia marinha renovável.

Após várias rondas de encontros com utilizadores e partes interessadas da costa atlântica, foi possível definir diferentes serviços bem formulados com o objetivo de abordar as suas necessidades operativas. Os serviços são os seguintes:

  • Deteção e vigilância da poluição marítima - A poluição marítima é um problema devastador que precisa de soluções conceptuais e tecnológicas para prevenir, detetar, vigiar e mitigar as consequências da degradação ambiental. Nesse sentido, os serviços baseados em EO podem contribuir de forma decisiva para encontrar possíveis soluções.

     A GMV está a implementar serviços baseados em EO com o objetivo de detetar a poluição marítima mediante imagens (óticas e SAR) de livre uso de Sentinel 1 e 2. Estes serviços baseiam-se nas vantagens do uso de dados EO multiespectrais juntamente com a aprendizagem automática e a inteligência artificial de forma a identificar plásticos que flutuam na água (e conhecer de que tipo são) e descargas marinhas.

     O uso das imagens de Sentinel é um fator decisivo para aproveitar o valor acrescentado destes serviços, uma vez que torna possível a vigilância de lugares de interesse de maneira continuada e permite ampliar a análise a modelos de circulação no oceano para compreender as tendências dos fluxos de poluição.

  • Gestão de inundações e do risco de erosão costeira - Para mitigar o risco de inundação e erosão nas regiões costeiras do Reino Unido, o Observatório Costeiro do canal da Mancha coordena e divulga os dados recolhidos pela rede de programas regionais de vigilância costeira da Inglaterra.

    Face ao crescente custo que a proteção costeira representa, espera-se que as estratégias de gestão comecem a afastar-se do uso de medidas de proteção e se comecem a implementar medidas de resiliência e adaptação. Para isso, é necessário aumentar os níveis de observação de uma série de parâmetros. O objetivo geral deste caso prático é encontrar e mostrar novas formas de utilizar os dados EO em combinação com outro tipo de dados para permitir ao Observatório Costeiro do canal da Mancha planificar a compilação de dados sobre o terreno que requeira grande quantidade de mão de obra de forma mais eficiente, corrigindo as carências no programa de vigilância in situ e diminuindo a sua necessidade em alguns estudos sobre o terreno. Um dos principais objetivos deste projeto para o Observatório Costeiro do canal da Mancha é avaliar a utilidade da EO no momento de proporcionar o perfil das praias antes e depois de uma tempestade com o objetivo de controlar as mudanças no seu volume.

     Para implementar este serviço, o Centro Nacional de Oceanografia desenvolveu um método para medir a linha temporária do nível da água (altura estimada da batimetria intermareal) que combina imagens SAR com registos de marés para mapear as alturas de batimetria intermareal. As áreas intermareais podem ser extensas, perigosas e de difícil acesso, o que faz com que os estudos sobre o terreno sejam extremamente difíceis em certas zonas.

  • Reflectometria interferométrica baseada em GNSS para a deteção remota no mar - Para proporcionar este serviço, o consórcio está a trabalhar em colaboração com o Centro Europeu de Energia Marinha (EMEC) no desenho conjunto de um serviço EO adaptado às necessidades do crescente setor das energias renováveis marinhas.

    Os GNSS-IR de baixo custo (reflectometria interferométrica) consideram-se uma solução viável e prometedora para a observação remota das condições do mar. Esta metodologia consolidou-se como uma das principais ferramentas na observação remota dos oceanos. Nos contextos marinhos, a técnica pode ser utilizada para medir os níveis da água e o estado do mar. Neste contexto, a distância entre uma antena e a superfície da água mede-se analisando a oscilação da observação da relação sinal-ruído (SNR). No final de contas, as desigualdades da superfície do mar estão relacionadas com a atenuação da oscilação da relação sinal-ruído e podem ser processadas para obter uma altura e direção de onda significativas.

Por último, deve ter-se em conta que os serviços operativos que se estão a prestar no âmbito do projeto Economia Azul se devem considerar exemplos do potencial muito maior que os serviços baseados em EO oferecem para aproveitar as perspetivas dos interessados no âmbito marítimo, os ajudar a reconhecer oportunidades no âmbito espacial e trabalhar ativamente para caminhos futuros mais além do próprio projeto.

Nesse sentido, o consórcio do projeto trabalhou nas diversas contribuições recolhidas em inúmeras reuniões com as partes interessadas. As contribuições serão utilizadas para elaborar um plano de trabalho dirigido pelas partes interessadas e baseado em dados que contenha recomendações (opções) aplicáveis para que a Agência Espacial Europeia considere a sua implementação em futuras iniciativas atlânticas.

 

Autor: Filipe Girbal Brandão

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