Tendências tecnológicas no setor de defesa e segurança do século XXI

O setor da defesa e segurança está a atravessar uma transformação profunda, impulsionada pela adoção de tecnologias emergentes e disruptivas. Estas inovações não só redefinem as capacidades operacionais das forças armadas e as estratégias das Organizações Aliadas de Segurança, como também estabelecem novos paradigmas para enfrentar as ameaças do presente e do futuro.
Desde a inteligência artificial e a robótica até à tecnologia quântica e aos materiais avançados, estas tecnologias foram consideradas essenciais tanto pela União Europeia como pela NATO para o setor. Estão a transformar a forma como são concebidas as estratégias, a logística e as operações militares em todos os domínios.
Quais são as Tecnologias Emergentes com maior impacto no setor defesa
A Inteligência Artificial (IA)
A inteligência artificial (IA) tem múltiplas aplicações no setor militar, desde a tomada de decisões até à logística. A IA já é utilizada em sistemas autónomos capazes de tomar decisões e realizar manobras de forma independente, apesar dos desafios éticos e legais associados à sua implementação, como a definição do papel humano em processos críticos.
No ciberespaço, a IA permite detetar vulnerabilidades e executar ações ofensivas e defensivas. Contribui também para a dissuasão estratégica ao recolher informações sobre armas e ameaças, transformando o panorama geopolítico. Em logística, tecnologias como o fabrico aditivo e os gémeos digitais, aliados à IA, melhoram a cadeia de abastecimento e a manutenção de equipamentos.
A GMV destaca-se no desenvolvimento de soluções baseadas em IA e Big Data para defesa e segurança, incluindo sistemas de análise de dados em tempo real para trabalhos de inteligência e desenvolvimento de plataformas de simulação e navegação baseadas em IA.
Sistemas Autónomos e Robótica
Estes sistemas são especialmente úteis para aquisição de informação, vigilância e análise de inteligência, além de realizarem tarefas de rotina como a supervisão de fronteiras com mínima intervenção humana. A sua implementação melhora as capacidades de combate e reduz o risco de baixas humanas em cenários operacionais.
Na área médica, os sistemas autónomos vão melhorar os cuidados de saúde no campo de batalha e diminuir a necessidade de especialistas médicos no terreno.
No setor logístico, otimizarão o transporte de carga e pessoal, permitindo redesenhar as redes de abastecimento e integrar melhor os níveis estratégico, operacional e tático. Este avanço impulsiona o conceito de logística "a pedido".
Sistemas hipersónicos
Os sistemas hipersónicos representam um desafio significativo devido à sua combinação de alta velocidade, manobrabilidade e trajetórias complexas. Estas características exigem o desenvolvimento de novos sistemas de deteção e contramedidas para modernizar as abordagens atuais de defesa aérea e antimíssil. Dado o curto tempo de resposta, é crucial implementar sistemas de defesa avançados com redes extensas de sensores, sistemas espaciais, radares e algoritmos de IA e computação quântica para processar informação em tempo real.
Sistemas espaciais
O espaço tornou-se um domínio estratégico essencial para as operações militares. As capacidades espaciais, como comunicações, observação e sensorização, melhoram a planificação e execução de missões, permitindo alertas precoces e análise de objetivos em tempo real.
As comunicações espaciais potenciam as capacidades de vigilância, inteligência e comando e controlo (C2), permitindo simultaneamente operações multidomínio com menor dependência de infraestruturas terrestres. Para além disso, as capacidades de observação espacial possibilitam alertas precoces e análise de alvos, facilitando a avaliação em tempo real de ameaças e danos no campo de batalha.
Novos materiais
Os novos materiais abrangem desde metais avançados e nanotecnologia até biologia sintética. Os sistemas de comunicação baseados nestes materiais inovadores oferecem capacidades avançadas, otimizando o uso do espetro eletromagnético. Adicionalmente, as antenas construídas com estes materiais aumentam a potência e a direção dos sinais, tornando-as ideais para a guerra eletrónica.
No âmbito da defesa CBRN, a nanotecnologia e as superfícies autodescontaminantes têm proporcionado soluções avançadas para identificar e mitigar ameaças modernas com um consumo energético reduzido. Estas tecnologias também facilitam o desenvolvimento de equipamentos mais duradouros para ambientes extremos, como operações submarinas e espaciais.
Por fim, a fabricação aditiva está a transformar a logística militar ao permitir a produção local de peças e componentes, incluindo peças sobresselentes para veículos e sistemas médicos.
Tecnologia quântica
Essas tecnologias possibilitarão o processamento de dados ultrarrápido e garantirão uma proteção sem precedentes nas comunicações, protegendo-as de interceções e ataques. Oferecem conexões seguras e interoperabilidade entre sistemas militares no campo de batalha, como sistemas não tripulados, aeronaves, barcos e sistemas de comando e controlo.
A combinação de inteligência artificial e tecnologias quânticas permitirá o desenvolvimento de ferramentas avançadas de apoio à decisão, facilitando capacidades de comando e controlo mais distribuídas e eficazes. Além disso, estas tecnologias irão melhorar a precisão e a sensibilidade em atividades de vigilância, reconhecimento e inteligência multidomínio. Em contextos submarinos, irão otimizar a deteção de alvos e as comunicações subaquáticas.
Energia e propulsão avançada
O desenvolvimento de sistemas de energia e propulsão mais eficientes está a permitir a operação de plataformas mais sustentáveis e com maiores capacidades. Isto inclui sistemas de baterias avançadas para drones e veículos elétricos utilizados em missões de longa duração, bem como tecnologias de energia dirigida, como armas a laser, que oferecem soluções de defesa contra drones e projéteis.
Biotecnologia
As biotecnologias e as tecnologias de melhoria do rendimento humano têm como aplicação-chave a capacidade de monitorizar em tempo real os combatentes e o seu contexto. Isto permite diagnósticos mais precisos sobre o seu estado de saúde, disposição e condição geral, além de melhorar a consciência situacional. Os sensores integrados nas roupas ou no equipamento do soldado fornecem dados valiosos e podem recomendar ações de forma automática. Tecnologias como microssensores e realidade aumentada proporcionam informações em tempo real, melhorando o controlo e a execução das missões.
Em conclusão, as tecnologias emergentes estão a redefinir as capacidades de defesa e segurança, oferecendo soluções inovadoras para enfrentar os desafios do século XXI. Contudo, a sua adoção exige uma abordagem equilibrada que contemple a ética, a legalidade e a interoperabilidade entre as nações aliadas.
Autor: Begoña Rojo